O montado é uma das paisagens mais emblemáticas de Portugal, em especial no Alentejo, mas este santuário de biodiversidade, que começou a ser moldado pela atividade humana há muitos séculos, é também um habitat em risco.
Pensa-se que há mais de 14 séculos, fruto da atividade humana, tinham-se já desbravado na região mediterrânica áreas destinadas a culturas agrícolas e prados, atividades acompanhadas pelo desbaste parcial de bosques, onde o sobreiro e a azinheira eram valorizados e protegidos, conta o Livro Verde dos Montados. Foi, assim, moldada a paisagem que daria origem ao montado, onde se conjuga agricultura, silvicultura e pastorícia (sistema agrosilvopastoril).
Este sistema multifuncional tem nas árvores a sua componente estrutural, destacando-se duas espécies de carvalhos: o sobreiro (Quercus suber) e a azinheira (Quercus rotundifolia). É em torno delas que se desenvolve este ecossistemas seminatural com elevados índices de diversidade, que a organização não governamental ANP | WWF intitulou como um “santuário de biodiversidade”.
Nestes mosaicos dominados por sobro ou azinho (ambas da família Fagaceae), congregam-se outras espécies de árvores, arbustos e herbáceas – desde outros carvalhos (Quercus coccifera), a medronheiro (Arbutos unedo), folhado (Viburnum tinus) e murta (Myrtus communis) – e o espaço divide-se com culturas arvenses e forrageiras ou pastagens espontâneas, com pastoreio extensivo, tradicionalmente feito por ovinos. Contam-se também cerca de 140 espécies de plantas aromáticas, medicinais e melíferas, assim como perto de 400 espécies de vertebrados, entre os quais vários mamíferos e aves ameaçadas. Uma das mais raras é a águia-imperial (Aquila adalberti), uma residente e nidificadora ibérica.
A necessidade de preservar este habitat, levou à integração do “Montado de Quercus spp. de folha perene” na Rede Natura (Habitat 6310). Atualmente, a sua conservação e regeneração são prioridades, uma vez que se tem vindo a assistir ao decréscimo de vitalidade do montado: a densidade das árvores tem vindo a diminuir, a sua taxa de renovação a decrescer, e a mortalidade a aumentar, ameaçando o equilíbrio destes sistemas.
“Muitos montados não são sistemas ecologicamente sustentáveis na ausência de gestão” e precisam de medidas de silvicultura, refere o ICNF – – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que adverte: a ação humana nem sempre tem sido a melhor. O declínio do montado tem sido associado à introdução de novas culturas, como o gado bovino e porco-preto, por exemplo, e à aplicação de métodos inadequados de controlo de vegetação, que prejudicam a estrutura do solo e são ainda agravados pela seca.