Chama-se lagarta–do–pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) e pode parecer inofensiva, mas por trás deste aspeto simpático existe perigo, tanto para humanos, como para animais e, naturalmente, para as árvores que desfolha: é uma praga cada vez mais comum no nosso país, graças às alterações climáticas.
Também conhecida por processionária do pinheiro ou apenas por processionária, a lagarta-do-pinheiro pertence à família das traças (ordem Lepidóptera), sendo também um animal noturno. É um inseto desfolhador, tal como o gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis), que se alimenta das folhas das árvores em que se fixa, nomeadamente no pinheiro-bravo (Pinus pinaster), pinheiro-manso (Pinus pinea) e pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris), bem como no pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis), no cedro-do-atlas (Cedrus atlantica), no cedro-dos-himalaias (Cedrus deodora) ou nos larícios (Larix decidua), entre outras espécies da família Pinaceae (a família dos pinheiros).
Apesar de o pinheiro-bravo ser uma espécie resistente, é afetado por doenças e pragas que o debilitam, sendo a lagarta-do-pinheiro uma delas. Ataca a espécie ao nível das agulhas, de que se alimenta. Geralmente, os danos não são graves, registando-se um défice do crescimento da árvore e um enfraquecimento que leva a uma quebra na produção de madeira. No entanto, desfolhas acentuadas vão enfraquecendo cada vez mais a árvore, sobretudo se esta for jovem, e, se a infestação for grave, pode ser necessário proceder ao abate.
A lagarta-do-pinheiro não sobrevive em climas frios. Originalmente, a sua distribuição estava limitada à bacia mediterrânica e parte do Médio Oriente, mas tem ocorrido um aumento da sua distribuição para norte, parando no Reino Unido Irlanda e países escandinavos, onde o clima é frio e não existe habitat. Ocorre também no norte de África e na Austrália (para onde se presume que foi levada acidentalmente, afetando as plantações de Pinus australianas).
É uma espécie cujo ciclo biológico passa por quatro fase com duração variável e determinada pelas condições meteorológicas, sendo, por norma, anual:
1.ª fase | Ovo | Julho a meados de outubro
A fêmea põe entre 70 a 350 ovos e a eclosão dá-se 30 a 45 dias depois. Estes ovos, medindo entre quatro a cinco centímetros de comprimento, são, devido às escamas do tufo anal feminino que os cobrem, semelhantes a rebentos de pinheiro. Os ovos são colocados num ninho de seda, construído no topo das árvores infestadas durante o inverno. Ao eclodir, as pequenas lagartas alimentam-se das suas agulhas.
2.ª fase | Lagarta | Setembro a meados de abril
A lagarta passa por cinco estádios de crescimento. É a partir do terceiro que surgem os pelos urticantes, mas só no quinto estádio o aparelho defensivo das lagartas está totalmente desenvolvido – compõem-no cerca de 120 mil pelos urticantes, situados entre o primeiro e o oitavo segmentos abdominais. É também nesta altura que deixam os ninhos e fazem a sua “procissão”. Com cerca de quatro centímetros de comprimento, apresentam a cabeça preta e o corpo verde, depois alterando-se com a chegada dos pelos dorsais, de cor avermelhada, que cobrem todos os segmentos do corpo de forma simétrica.
3.ª fase | Pupa ou crisálida (casulo) | Fevereiro a junho
Esta fase, chamada de pupação, dá-se no solo, entre 15 a 20 centímetros de profundidade. Em climas frios e temperados, as lagartas procuram áreas com sol e, em climas mais quentes, acabam por enterrar-se perto das árvores em que formaram o ninho. Um casulo de seda branco envolve as pupas, com dois centímetros de comprimento. Nesta altura apresentam uma cor amarelada, alterando-se depois para castanho-avermelhado.
4.ª fase | Inseto adulto (borboleta) | Junho a agosto
A borboleta surge do solo forçando-o com a placa córnea da sua cabeça. Exclusivamente noturnos, os adultos vivem apenas quatro dias. Nesta fase ocorre a fecundação das fêmeas, que constroem um ninho na copa das árvores para a postura dos ovos.
A duração das fases depende em grande parte das condições climatéricas. Caso estas sejam desfavoráveis, o ciclo de vida pode prologar-se até três anos enquanto pupa.