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Javali, um portador de sarilhos

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O javali (Sus scrofa), nativo da Europa, Norte de África e da Ásia, é uma espécie de mamífero que se adapta facilmente a habitats diferentes. Não é, por isso, de estranhar que encontremos o javali de Norte a Sul de Portugal continental e que a espécie continue a expandir-se pelo nosso território. Saiba mais sobre este animal, exímio em resistir a predadores pela sua robustez e um verdadeiro portador de sarilhos.

Seja de que ângulo o avistar, as características bem vincadas do javali (Sus scrofa), também conhecido por porco-montês, navalheiro ou javardo, saltam bem à vista – aliás, não só as características saltam à vista como o próprio animal, que pode dar espantosos saltos de até 1,50 m, cerca do seu comprimento total.

Ágil para os seus até 200 quilos, exibe um corpo arredondado que contrasta com o formato da cabeça, de grandes dimensões, que termina num focinho comprido. No caso do macho, apresenta dentes caninos inferiores proeminentes e curvados, as defesas, que podem medir até 20 centímetros. O seu corpo é coberto por pelagem espessa e comprida, acastanhada exceto no verão, em que se torna mais clara e curta, com uma crista por vezes visível no dorso. As orelhas são pontiagudas e exibem a mesma pelagem.

O javali adapta-se a habitats como a tundra e a savana subtropical, mas prefere ambientes com vegetação densa, água, alimento e abrigo. Não é inédito encontrá-lo em áreas agrícolas e até urbanas, em que facilmente encontra nutrimento, deixando estragos por onde passa. O javali é dinâmico, adaptando-se a bosques de folhosas, coníferas e mistos, eucaliptais, matos ou mesmo zonas de estuário.

Tal como os primos porcos domésticos com quem partilha a família dos Suídeos, o javali é um omnívoro oportunista, que aproveita o que estiver ao seu dispor para se alimentar, o que depende sempre da estação do ano, mas também do habitat e da presença humana. Não sendo particularmente esquisito com o que lhe aparece no prato, por alimentar-se tanto de plantas, frutos (como bolotas, castanhas, azeitonas, batatas e bagas diversas), partes subterrâneas de ervas ou arbustos silvestres, como animais, desde pequenos invertebrados (como minhocas ou larvas de inseto) e mamíferos (como ratos e coelhos), répteis, ovos ou mesmo cadáveres de vertebrados. Para procurar alimento, um javali pode deambular entre 400 e 2200 hectares.

Javali, um “porco” de família

Na sua vida familiar, machos e fêmeas desempenham papéis bem diferentes. Um grupo de javalis (uma vara) pode fixar-se num território entre 200 a 2000 hectares. Durante a época de acasalamento, entre novembro e início de janeiro, os machos, habitualmente solitários, juntam-se a este grupo – fora desta época, chegam a ocupar áreas ainda maiores. Em cada vara de cerca de 20 indivíduos existem até duas javalinas adultas, as matriarcas, e as suas crias ou jovens que ainda não chegaram à maturação sexual, nascidas da última época de reprodução, entre março e abril.

As fêmeas com mais de dois anos de idade e em boa condição corporal são as mais prolíferas, podendo realizar três partos a cada dois anos, esporadicamente dois partos por ano.  A gestação é de quatro meses e de cada ninhada nascem várias crias, entre quatro a cinco, com uma pelagem especial, até aos três meses: riscas claras sobre o pelo curto mais escuro, padrão que diferencia os “listados” dos progenitores. As crias são mantidas num ninho escondido entre a vegetação durante alguns dias antes de se juntarem à vara. Alcançarão a maturidade sexual entre os oito e os dez meses, acasalando mais tarde, quando os machos dominantes o permitirem.

A abundância do javali: um perigo para a biodiversidade?

Espécie cinegética, coexiste no mesmo território de outras espécies de ungulados silvestres, como o veado. Pela falta de predadores, além do homem através da caça, a sua população continua a aumentar – o seu corpo robusto e a sua habilidade salvam-no de ser atacado por predadores. Por outro lado, os juvenis, menos preparados para estas investidas, não sobrevivem às patas de lobos-ibéricos (Canis lupus), ursos-pardos (Ursus arctos) ou a raposas-vermelhas (Vulpes vulpes).

Os estragos feitos pelos javalis em colheitas, na agricultura e por onde passam são bem conhecidos, ao cavar vegetação nativa e dispersar ervas, assim alterando os processos ecológicos dessa área. Apesar disso, a ameaça que a espécie representa para a biodiversidade ainda não foi quantificada ao nível dos ecossistemas. Um estudo de 2021 refere que o javali ameaça 672 espécies em 54 países do mundo – especialmente onde o javali é uma espécie exótica e considerada invasora, como mas ilhas Galápagos, na Austrália e na Nova Zelândia. Muitas destas espécies estão listadas como “Criticamente em perigo” (CR) ou “Em Perigo” (EN) pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Quatorze espécies foram mesmo dadas como extintas devido ao impacto do javali, menciona a mesma fonte.

Por outro lado, o javali é uma espécie que transmite facilmente agentes patogénicos a outras espécies, tais como o porco doméstico, pelo que o controlo das populações é fundamental para evitar o contacto e a disseminação de doenças como a peste suína africana, mas também de outras que podem prejudicar a saúde humana, como a tuberculose.

Sabia que…

  • Não, o Pumba de O Rei Leão não pertence à espécie Sus scrofa. A personagem é, na realidade, um javali-africano, também chamado de facocero-comum (Phacochoerus africanus), igualmente pertencente à família dos Suidae.
  • É habitual ver-se o javali a rebolar no chão, na lama ou em charcos. É a esta “dança” que fazem para se libertarem dos parasitas a que chamamos chafurdar.
  • A carne de javali, diferente da do porco, é saborosa e exótica, garantindo o seu lugar nas mesas dos apreciadores por ser magra, mas rica em nutrientes.
  • Javali

    Sus scrofa

  • Mamífero

  • Família

    Suidae

  • Habitat

    Ocorre em diversos habitats, desde bosques de folhosas, coníferas e mistos, eucaliptais, bosquetes, montados e terrenos agrícolas, sobretudo se em mosaico, para garantir as zonas de refúgio, alimentação e água. Ocorre ainda em zonas de estuário e próximo a zonas urbanas, ou mesmo dentro delas.

  • Distribuição

    O javali encontra-se por toda a Europa, assim como por todo o território de Portugal continental, nomeadamente, desde o Parque Nacional da Peneda-Gerês até ao Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

  • Estado de Conservação

    “Pouco preocupante” (LC), de acordo com o Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental.

  • Altura / comprimento

    O comprimento total de um macho pode ultrapassar o 1,60 m. A fêmea, mais pequena, pode chegar aos 1,45 metros.

  • Longevidade

    Esta espécie tem uma longevidade média de 10 anos, em liberdade, e de 20 anos em cativeiro.

Como protegemos a espécie?

O javali é uma das 253 espécies que ocorrem nas áreas florestais geridas pela The Navigator Company, identificadas e protegidas em prol da conservação da biodiversidade, havendo registos da sua presença nas propriedades desde 2008.

Como espécie presente em todo o território continental, está, naturalmente, presente em muitas das propriedades da companhia, desde o norte (Santo Tirso, Amarante, Pampilhosa, Gois, Mortágua, Tejo Internacional, Malcata, Gavião e Nisa), ao centro (Charneca do Tejo, Estuário do Tejo e Serra d’Ossa) e ao sul do país (Vale do Sado, Sudoeste Alentejano e Monchique).

A espécie também visita ocasionalmente a Quinta de São Francisco, tendo já sido observadas marcas da sua busca incessante por cogumelos, larvas de insetos e pequenos rizomas.

Tal como acontece com outras espécies em que o estado de conservação é “Pouco Preocupante” (LC), não é necessário colocar em prática medidas especiais de proteção. No entanto, é sempre realizada a manutenção de manchas de habitat que permitem locais de alimentação, água e abrigo para estes animais.

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