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Montanhas: refúgios de vida, reservatórios do futuro

Celebrado a 11 de dezembro, o Dia Internacional das Montanhas convida-nos a olhar para estes imponentes ecossistemas não apenas como paisagens de beleza singular, mas como verdadeiros refúgios de biodiversidade e reservatórios de recursos vitais.

As montanhas cobrem cerca de 27% da superfície terrestre e abrigam uma impressionante diversidade biológica e cultural, sendo o lar de aproximadamente 15% da população humana mundial e de uma grande variedade de espécies adaptadas a condições extremas de altitude, temperatura e luminosidade.

Estes ecossistemas de altitude são verdadeiros santuários para espécies ameaçadas, reservatórios de água – metade da população mundial depende da água das montanhas – e guardiões da diversidade genética que sustenta a vida nos vales e planícies.

Infelizmente, tal como o restante planeta, estes importantes refúgios de vida não estão imunes às alterações climáticas, enfrentando, cada vez mais, lutas maiores e desiguais para sobreviver.

Ecossistemas em altitude

As montanhas constituem ecossistemas de excecional complexidade e beleza e podem ser encontradas em todos os continentes e altitudes. As suas flutuações acentuadas de altitude criam uma sucessão de habitats – desde florestas e matos nas encostas inferiores até prados alpinos e zonas rochosas nas cotas mais elevadas. Essa variação de microclimas e condições do solo (físicas, químicas e biológicas) favorece a presença de espécies endémicas e comunidades vegetais únicas, muitas delas adaptadas a extremos de frio, vento e insolação.

Em Portugal, a Serra da Estrela, o Gerês, Monchique ou São Mamede exemplificam bem esta diversidade. Neles coexistem carvalhais, zimbrais, urzais e giestais, todos com papéis ecológicos distintos na retenção de solo, reciclagem natural dos nutrientes e regulação hídrica. Nas suas vertentes, encontram refúgio espécies emblemáticas como o lobo-ibérico (Canis lupus signatus), o gato-bravo (Felis silvestris silvestris), ou aves de altitude como a águia-real (Aquila chrysaetos) e o melro-de-água (Cinclus cinclus), bioindicador da qualidade dos cursos de água.

Reservatórios naturais de água e diversidade

Mais do que paisagens majestosas, as montanhas são os “reservatórios de água” do planeta. São a origem de todos os principais rios do mundo e de muitos outros mais pequenos. Desempenham um papel crucial no ciclo da água: a chuva e a neve acumuladas nos meses frios funcionam como um sistema natural de armazenamento e libertação gradual de água, alimentando rios, nascentes e aquíferos. Este mecanismo é essencial para a regeneração dos ecossistemas e para o equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos.

Durante o inverno, a precipitação sólida permanece sob a forma de neve e gelo; na primavera e no verão, o degelo liberta lentamente a água, garantindo o abastecimento de ecossistemas ribeirinhos, zonas agrícolas e comunidades humanas situadas a jusante. É nas montanhas que se formam muitas das bacias hidrográficas de maior importância ecológica e económica da Península Ibérica. Para além disso, ainda preservam um valioso património cultural, que inclui monumentos e tradições criadas e mantidas pelas comunidades que nelas se estabeleceram.

Por agregarem estas características, as Reservas da Biosfera Transfronteiriças do Gerês/Xurés e da Meseta Ibérica, a maior da Europa, fazem parte da Rede Mundial de Reservas da Biosfera de Montanha.

Mas estes ambientes são também reservatórios de diversidade genética, essenciais para a adaptação das espécies às mudanças ambientais. São como ilhas, onde as populações isoladas em altitude funcionam como “laboratórios de evolução”, formam endemismos únicos (verdadeiras espécies novas), que não podemos encontrar em mais lugar nenhum do mundo.

O desafio das alterações

As montanhas são particularmente vulneráveis a alterações. A degradação das regiões montanhosas causada tanto pela mão humana como pelas mudanças climáticas tem um grande impacto nestes ecossistemas. As práticas agrícolas insustentáveis, a mineração comercial, a desflorestação, a poluição, a caça ilegal e os desastres naturais têm obrigado os ecossistemas e as pessoas que deles dependem a adaptar-se ou a migrar.

Contudo, são as alterações climáticas que mais se têm evidenciado. O aumento das temperaturas médias e a alteração dos regimes de precipitação ameaçam os frágeis equilíbrios ecológicos construídos ao longo de milénios. O recuo das áreas de neve e gelo altera a disponibilidade de água e as mudanças sazonais no ciclo de vida das espécies, provocando migrações altitudinais e perda de habitats.

Espécies altamente especializadas, como líquenes e plantas alpinas, veem o seu espaço vital reduzir-se, enquanto espécies invasoras e generalistas colonizam novas áreas. Estes desequilíbrios afetam não só a biodiversidade, mas também os serviços de ecossistema de que dependem milhões de pessoas.

Cuidar das montanhas é cuidar da vida

Proteger as montanhas significa proteger a base ecológica do planeta. A gestão sustentável destes ecossistemas tem sido cada vez mais vista como uma prioridade a nível mundial. É, por isso, que faz parte dos Objetivos de Desenvolvimentos Sustentável (ODS) das Nações Unidas (meta quatro do objetivo 15).

Esta gestão deve integrar conservação da natureza, ordenamento do território e adaptação climática, valorizando o papel das comunidades locais que, ao longo dos séculos, desenvolveram práticas de uso sustentável dos recursos.

Neste Dia Internacional das Montanhas, recordamos que cada vertente, cada linha de água e cada bosque de altitude são peças fundamentais de um sistema que sustenta a vida. Preservar as montanhas é garantir o futuro da água que bebemos, da biodiversidade e da herança natural e cultural que nos rodeia.

Sabia que…

  • O Monte Everest, localizado na cordilheira do Himalaia, é a montanha mais alta do mundo, com uma altitude de 8.848 metros acima do nível do mar. Foi escalado pela primeira vez no ano de 1953.
  • Marte tem a montanha mais alta do sistema solar. O Monte Olympus é a maior montanha conhecida, com cerca de 27 quilômetros de altura acima da paisagem circundante.
  • A Lua também tem suas próprias montanhas impressionantes. O Monte Huygens ( parte da cadeia dos Apeninos Lunares) é a maior, com altitudes que podem chegar aos 5500 metros acima dos mares lunares.
  • A maior parte das cadeias de montanhas na Terra está submersa sob os oceanos,são as chamadas montanhas submarinas que se elevam bastante acima da paisagem circundante, como a cordilheira Mesoatlântica no Oceano Atlântico ou a Mauna Loa no Havai, com 9,170m acima do fundo marinho.
  • Muitas montanhas são de origem vulcânica. O Monte Fuji, no Japão, é um exemplo icônico de uma montanha vulcânica que ainda é considerada ativa.

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