Reservatórios naturais de água e diversidade
Mais do que paisagens majestosas, as montanhas são os “reservatórios de água” do planeta. São a origem de todos os principais rios do mundo e de muitos outros mais pequenos. Desempenham um papel crucial no ciclo da água: a chuva e a neve acumuladas nos meses frios funcionam como um sistema natural de armazenamento e libertação gradual de água, alimentando rios, nascentes e aquíferos. Este mecanismo é essencial para a regeneração dos ecossistemas e para o equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos.
Durante o inverno, a precipitação sólida permanece sob a forma de neve e gelo; na primavera e no verão, o degelo liberta lentamente a água, garantindo o abastecimento de ecossistemas ribeirinhos, zonas agrícolas e comunidades humanas situadas a jusante. É nas montanhas que se formam muitas das bacias hidrográficas de maior importância ecológica e económica da Península Ibérica. Para além disso, ainda preservam um valioso património cultural, que inclui monumentos e tradições criadas e mantidas pelas comunidades que nelas se estabeleceram.
Por agregarem estas características, as Reservas da Biosfera Transfronteiriças do Gerês/Xurés e da Meseta Ibérica, a maior da Europa, fazem parte da Rede Mundial de Reservas da Biosfera de Montanha.
Mas estes ambientes são também reservatórios de diversidade genética, essenciais para a adaptação das espécies às mudanças ambientais. São como ilhas, onde as populações isoladas em altitude funcionam como “laboratórios de evolução”, formam endemismos únicos (verdadeiras espécies novas), que não podemos encontrar em mais lugar nenhum do mundo.
As montanhas são particularmente vulneráveis a alterações. A degradação das regiões montanhosas causada tanto pela mão humana como pelas mudanças climáticas tem um grande impacto nestes ecossistemas. As práticas agrícolas insustentáveis, a mineração comercial, a desflorestação, a poluição, a caça ilegal e os desastres naturais têm obrigado os ecossistemas e as pessoas que deles dependem a adaptar-se ou a migrar.
Contudo, são as alterações climáticas que mais se têm evidenciado. O aumento das temperaturas médias e a alteração dos regimes de precipitação ameaçam os frágeis equilíbrios ecológicos construídos ao longo de milénios. O recuo das áreas de neve e gelo altera a disponibilidade de água e as mudanças sazonais no ciclo de vida das espécies, provocando migrações altitudinais e perda de habitats.
Espécies altamente especializadas, como líquenes e plantas alpinas, veem o seu espaço vital reduzir-se, enquanto espécies invasoras e generalistas colonizam novas áreas. Estes desequilíbrios afetam não só a biodiversidade, mas também os serviços de ecossistema de que dependem milhões de pessoas.