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Que espécies são usadas como árvore de Natal?

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Entre as várias tradições da quadra natalícia, decorar a árvore de Natal é decerto uma das mais memoráveis que nos acompanham desde a infância. Para além da colocação das luzes, das fitas, das bolas e outros adereços temáticos, a escolha da respetiva espécie não deixa margem para dúvidas: o pinheiro-bravo é a árvore de eleição em Portugal. E noutras regiões do mundo, qual será? Vamos descobrir. 

Em todas as estações, existe uma época especial que nos faz olhar para a natureza de outra perspetiva. No inverno, é sem dúvida o Natal com todos os seus rituais, onde se inclui a escolha da melhor árvore da floresta para se cumprir uma tradição partilhada anualmente por milhões de pessoas, um pouco por todo o mundo.

Na verdade, é um pouco incerto quando tudo terá começado, mas histórias não faltam. Acredita-se, por exemplo, que os povos antigos penduravam galhos de plantas perenifólias nas portas e janelas de casa. Tal como o pinheiro, este género de plantas mantém as suas folhas verdes durante o ano inteiro. Crê-se ainda que esta prática, implementada em muitos países, seria para afastar bruxas, fantasmas e doenças. Existem também registos históricos de uma árvore de Natal erguida na Catedral de Estrasburgo, em 1539. Simbolismos à parte, um facto é unânime: as origens da árvore de Natal remontam a regiões com abundantes florestas perenes, tão comuns no hemisfério Norte. Quanto às espécies escolhidas, estão relacionadas com cada zona.

De acordo com a Associação norte-americana de Árvores de Natal, existem em todo o mundo cerca de 16 espécies associadas ao Natal, entre pinheiros, abetos, cedros e ciprestes, e todas têm o tronco direito, copa cónica e ampla, folhas finas e compridas, além do tom verde-escuro. O abeto-do-cáucaso (Abies nordmanniana) é considerado o mais comum na Europa. Já nos Estados Unidos da América predomina o abeto-de-fraser (Abies fraseri) e o abeto-nobre (Abies procera). Originário da costa oeste da América do Norte, também o abeto-de-douglas (Pseudotsuga menziesii) é uma das espécies mais apelativas e terá chegado a Portugal em 1840, valorizada pela beleza ornamental e pela sua madeira. É igualmente uma das espécies exóticas presentes em várias áreas florestais geridas pela The Navigator Company. Na Reserva Natural da Serra da Malcata, por exemplo, foram plantados vários exemplares entre 1978 e 1980, enquanto na Quinta de São Francisco, o mesmo aconteceu há várias décadas.

Curiosamente, o pinheiro-bravo (Pinus pinaster), espécie eleita em Portugal, é da mesma família Pinaceae que o abeto-de-douglas. Por outro lado, nos Açores, um dos símbolos natalícios provém de uma espécie muito plantada neste arquipélago – a criptoméria (Cryptomeria japonica D. Don).

Sobre os pinheiros

São vários os pinheiros (espécies do género Pinus) que crescem naturalmente em solo português, mas diga-se que as grandes áreas de pinhal foram plantadas. O Pinhal de Leiria, cuja plantação foi iniciada no reinado de D. Afonso III (1210-1279), terá sido uma das iniciativas pioneiras de reflorestação no mundo.

Entre estas espécies encontra-se o pinheiro-bravo, o pinheiro-manso (Pinus pinea), o pinheiro-de-casquinha ou silvestre (Pinus sylvestris), o pinheiro-negro (Pinus nigra), o pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis) e o pinheiro-radiata (Pinus radiata).

Se pensarmos que metade da floresta portuguesa é ocupada por espécies folhosas perenifólias e por pinhais, então o pinheiro fará parte de 63% da área florestal de Portugal Continental, segundo dados de 2015 que constam no Relatório Completo do 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6) do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Sobre o pinheiro-bravo

Por ser a espécie resinosa e conífera (que produz pinhas) mais abundante de norte a sul de Portugal continental, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira, é natural que o pinheiro-bravo (Pinus pinaster) represente 22% da floresta nacional.

Quanto às suas características gerais, trata-se de uma árvore de crescimento rápido que pode alcançar os 40 metros de altura e não costuma ultrapassar os 200 anos. Tem raízes profundas que a tornam bastante resistente ao vento e folhas em forma de agulha que se mantêm ao longo do ano, como já havíamos referido. Por sua vez, começa a florir por volta dos 7-8 anos, mas a floração torna-se regular entre os 10 e 15 anos, sempre na primavera. Já as pinhas atingem a maturidade 18 meses após o aparecimento dos cones e as sementes podem ser libertadas a partir da primavera/verão posteriores. Contudo, a produção de semente viável ao nascimento de novos pinheiros-bravos só vai acontecer a partir dos 15-30 anos da árvore.

Em grande parte das florestas plantadas geridas pela The Navigator Company, o pinheiro-bravo é a espécie florestal com maior presença, a seguir ao eucalipto.

Sabia que…

Há registos históricos que indicam ter sido erguida uma árvore de Natal na Catedral de Estrasburgo, em 1539, numa tradição que rapidamente ganhou popularidade. Acredita-se que os emigrantes alemães tenham contribuído para a sua propagação em toda a Europa no século XVIII, quando se quando se estabelecerem noutros países.

No nosso país, em tempos remotos, a tradição terá começado com o carvalho (Quercus sp.) despido de folhas, enfeitando-se para as festividades pagãs do solstício – uma celebração que acontece na altura do Natal.

Instalado no séc. XII, o Pinhal de Leiria é considerado o mais antigo exemplo mundial de reflorestação.

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