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Adelfeira: uma relíquia do passado

A adelfeira, também conhecida como rododendro, já ocupou vastas regiões da Europa, desde a Península Ibérica até ao Cáucaso, mas é, hoje, uma planta rara e ameaçada. Descubra esta relíquia vegetal, que sobrevive quase exclusivamente nas serras do Caramulo, de Monchique (Portugal) e de Aljibe (Espanha).

Se uma máquina do tempo nos transportasse até ao Terciário, período geológico que decorreu entre 66 e 2,58 milhões de anos, a adelfeira (Rhododendron ponticum subsp. baeticum) seria uma espécie fácil de avistar em Portugal. Nesses tempos longínquos, em que o clima era subtropical – mais quente e húmido –, a vegetação que crescia naturalmente era muito diferente e abundava a floresta Laurissilva, que incluía várias espécies de folhas persistentes, grandes, largas, inteiras (não recortadas), lisas, lustrosas, sem pelos e coriáceas (com a consistência do couro), como o loureiro (Laurus nobilis), o azereiro (Prunus lusitanica) e a adelfeira.

Quando o clima se tornou mais frio e seco, a Laurissilva praticamente desapareceu de Portugal continental e de outras regiões europeias, ficando restrita a pequenos bosquetes nas encostas e vales de algumas serras, como a serra de Monchique, do Caramulo, do Açor e da Lousã. Nessa altura, a adelfeira, que ocupara amplas regiões do sul da Europa, quase se extinguiu. Atualmente, sobrevivem apenas duas subespécies em regiões geográficas muito distantes entre si: no sudoeste da Península Ibérica, sobreviveu a subespécie baeticum (é por isso considerada um endemismo ibérico) e na região do mar Negro subsistiu a subespécie ponticum. É por estas raras presenças, que a espécie é considerada uma “relíquia do Terciário”.

Da família Ericaceae, na qual se incluem também as urzes e o medronheiro, por exemplo, a adelfeira é uma planta sempre-verde, que se destaca na primavera pela beleza das suas inflorescências – grupos de flores, que lembram cachos. Compostos por 8 a 16 flores, de tons rosa-vivo a lilás e manchas alaranjadas, estas inflorescências são grandes e vistosas. Já as sementes que produzem são muito pequenas (com menos de 1 milímetro), espalhando-se facilmente pela ação do vento.

Proteger e multiplicar a adelfeira são prioridades

Embora tenha flores hermafroditas (com ambos os sexos) e o vento ajude à dispersão das suas sementes, a regeneração natural da adelfeira não tem sido bem-sucedida, pelo que tem cabido à ação humana apoiar a expansão das suas populações, sobretudo, por multiplicação vegetativa: promovendo a sua reprodução através de caules e ramos de “plantas-mãe”.

A antiguidade e a raridade da adelfeira justificam também o seu estudo e a sua proteção. Assim, está integrada no Plano Setorial da Rede Natura 2000 — 92B0 “Florestas-galerias junto aos cursos de água intermitentes mediterrânicos com Rhododendron ponticum, Salix e outras espécies” — e como habitat prioritário — 5230 – Matagais arborescentes de Laurus nobilis —, no âmbito da Diretiva Habitats. Além disso, com o intuito de preservar esta relíquia da Laurissilva continental, surgiu o projeto Life-Relict, coordenado pela Universidade de Évora, cujas ações de conservação estão centradas nos adelfeirais (bosques de adelfeiras) do Alto da Foia, o ponto mais alto da serra de Monchique.

A cerca de 375 quilómetros de distância (em linha reta), na serra do Caramulo, encontra-se outra população, digna de destaque. A sua descoberta levou à criação da uma reserva botânica de Cambarinho, em 1971 (Decreto n.º 364/71). O objetivo foi proteger a adelfeira, reconhecendo o seu valor científico, educativo, turístico e paisagístico, o que não impediu a sua quase total devastação por um incêndio, em 2017. Embora as adelfeiras do Cambarinho estejam a recuperar, este trágico acontecimento mostra-nos como estas relíquias, que sobreviveram durante milhões e milhões de anos, podem facilmente desaparecer.

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Sabia que a adelfeira…

  • Pode ser vista no Algarve, ao percorrer a rota das adelfeiras, onde os visitantes podem explorar esta e outras preciosidades botânicas. Esta espécie-relíquia da Laurissilva permanece ali, graças às condições microclimáticas da serra de Monchique: um clima temperado, mais fresco e húmido do que o território circundante, com cariz mediterrânico.
  • Encontra-se em alguns jardins e parques, onde foi instalada como planta ornamental, uma vez que apresenta abundante floração e é resistente à poluição. Foi introduzida no norte da Europa e nas Ilhas Britânicas, no século XVIII (territórios onde não existia naturalmente). Desde então, formou nestas regiões populações subespontâneas, que se tornaram invasoras, com consequências ambientais nefastas.
  • É uma planta tóxica, quer para o Homem, quer para a maioria dos animais (especialmente, os herbívoros). Esta característica explica a sua destruição, no passado, por agricultores e pastores. O mel das adelfeiras é igualmente tóxico e alucinogénio, sendo chamado de mad honey (ou “mel louco”).
  • É conhecida por vários nomes comuns. Rododendro e adelfeira são dois dos mais usados, mas também há quem lhe chame adelfa.
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  • PLANTA

  • Adelfeira

    Rhododendron ponticum subsp. baeticum

  • Género:

    Rhododendron

  • Família:

    Ericaceae

  • Estatuto de conservação:

    Não se encontra avaliada nem em Portugal nem pela União Internacional da Conservação da Natureza, embora integre o Plano Setorial da Rede Natura 2000, no âmbito da Diretiva Habitats.

  • Habitat:

    Ocorre naturalmente em clima marcadamente atlântico e em solos ácidos (pH entre 4 e 6) e húmidos, próxima de linhas de água ou na orla de bosques.

  • Distribuição:

    Sudoeste ibérico, nas serras do Caramulo e Monchique (Portugal) e de Aljibe (Espanha).

  • Altura / Comprimento:

    Pode atingir 3 a 5 metros de altura.

  • Longevidade:

    Pode ultrapassar os 100 anos.

Como cuidamos da adelfeira?

A adelfeira é uma das plantas antigas e raras identificadas em propriedades sob gestão da The Navigator Company. A sua presença está confirmada em zonas florestais da empresa no sudoeste alentejano e na Serra da Monchique. Para além da espécie, foram identificadas locais com a presença dos habitats 92B0 “Florestas-galerias junto aos cursos de água intermitentes mediterrânicos com Rhododendron ponticum, Salix e outras espécies” — e como habitat prioritário — 5230 – Matagais arborescentes de Laurus nobilis – adelfeirais. Dada a sua pertinência, a Navigator, além de a proteger, mantendo o seu estado de conservação, pretende também vir a melhorar esse estado de conservação e aumentar a dimensão destes habitats.

Refira-se que, além de proteger as adelfeiras identificadas das atividades florestais que possam danificá-las, a The Navigator Company integra um consórcio que, até 2025 e em colaboração com universidades, empresas e viveiros portugueses, vai identificar exemplares adultos e saudáveis desta espécie, para estudar e testar diferentes estratégias de propagação, estabelecendo as formas mais viáveis e eficazes de multiplicar este raro endemismo.

Além da adelfeira, o projeto abrange um conjunto de plantas, arbustos e árvores igualmente raras e com interesse para a conservação, que tradicionalmente fazem parte dos carvalhais que subsistem no ocidente ibérico, incluindo, entre outras, o carvalho-de-monchique (Quercus canariensis), o carvalho-estremenho (Quercus estremadurensis), o azevinho (Ilex aquifolium) e o samouco (Myrica faya).

O desafio inclui a instalação de bosquetes destas espécies nos concelhos de Odemira e Monchique, com vista ao incremento das respetivas populações e área de conservação. Em paralelo, integra também a instalação de arboretos específicos para produção e recolha de semente com elevada diversidade genética.

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