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As vespas e o seu contributo para a biodiversidade

Desengane-se quem julga que as vespas são todas iguais. Este grupo de insetos da ordem Hymenoptera e da subordem Apocrita, no qual se englobam ainda as abelhas e as formigas, conta com mais de 100 mil espécies identificadas, vindas de origens e famílias distintas. Conheça algumas destas espécies e a sua participação essencial no equilíbrio dos ecossistemas.

Para alguns, pequenos seres perigosos, munidos de um ferrão intimidante. Para o mundo, essenciais na sua tarefa de polinização. Se é verdade que, a par das abelhas, as vespas têm esta função natural tão relevante para o planeta, na sua dança entre flores que dá aso à polinização cruzada e à produção de sementes e frutos, a sua utilidade vai mais além, sendo ainda benéficas para a nossa saúde, para a economia e para a sociedade.

Num estudo da University College London publicado na revista Biological Reviews em abril de 2021 são avançados números surpreendentes: as vespas pousam em 960 espécies de plantas e, dessas, 164 espécies dependem delas para polinizar, como é o caso de algumas espécies de orquídeas.

O mesmo estudo aponta ainda para outras utilizações da sua saliva e até do seu veneno: com propriedades antibióticas, os investigadores apontam que a saliva possa vir a ser utilizada em medicamentos; quanto ao seu veneno, a sua eficácia em tratamentos contra o cancro tem sido igualmente analisada.

Num outro registo, as vespas são exímias controladoras naturais de pragas, ao caçar outros pequenos insetos pertencentes à família dos Afídeos e que parasitam diferentes plantas, bem como lagartas. As vespas têm a seu cargo uma relevante tarefa na proteção das culturas agrícolas, controlando as suas populações e minorando os danos às culturas – uma forma de biocontrolo que difere consoante as espécies de vespas são sociais ou solitárias.

Pela sua aptidão no controlo de pragas e por ser uma opção que não apresenta riscos para o ambiente, as competências naturais das vespas estão a ser colocada em prática: a vespa Anaphes, uma espécie de que falaremos em seguida, está em campo nas florestas espanholas, mas também nas portuguesas; outras espécies estão a ser estudadas, como a Trissolcus japonicus, uma vespa microscópica que pode ser utilizada para travar espécies invasoras que ameaçam habitats, ecossistemas e culturas como é o caso do percevejo asiático (Halyomorpha halys) que, oriundo da Ásia, chegou aos Estados Unidos da América e à União Europeia.

Variedades de vespa: um mundo por descobrir

De corpo brilhante e menos peludo que as primas abelhas, as vespas podem ser solitárias ou sociais. Enquanto as primeiras são especialistas, ajudando a combater pragas, como veremos de seguida, as segundas formam colónias que podem chegar a albergar dezenas de milhares de vespas, formando relações sociais complexas.

Conheça algumas das espécies mais comuns em Portugal:
Vespa-do-papel (Polistes dominula)
Vespa colonial da família Vespidae, nativa do Sul da Europa. É talvez a espécie de que nos lembramos quando falamos em vespa, pela proximidade da construção dos seus ninhos a zonas habitadas. Substâncias açucaradas, como frutos e néctar de flores, são a base da sua alimentação. Com 12 milímetros de comprimento, é um predador generalista de outros insetos, que servem de alimento às larvas. Os ninhos, feitos a partir de uma pasta de madeira moída e saliva, que lembra a textura do papel, são modulares e resistentes à água. Importantes ainda na história da humanidade ao terem inspirado, em 1719, a produção de papel a partir da madeira que mastigam e expelem. Só no século XIX a pasta de madeira começou a ser utilizada no fabrico moderno do papel, num exemplo perfeito de biomimetismo.

Vespa-europeia (Vespa crabro)

Também conhecida por vespão, é um predador de outros insetos, incluindo das abelhas (Apis mellifera), levando à dizimação de colmeias inteiras para alimentar as larvas, levando ao desenvolvimento de comportamentos defensivos por parte destas. Com um comprimento de cerca de 3,5 centímetros, alimentam-se igualmente de néctar floral ou frutos maduros. Os ninhos, cilíndricos, são construídos em troncos ocos ou mesmo em edifícios, a partir de cascas de árvores, madeira e materiais vegetais que são triturados e unidos com a sua saliva, moldados depois com as patas.

Vespa Anaphes (Anaphes nitens)

A espécie mais pequena desta lista, com cerca de 1 milímetro, é solitária, não pica e alimenta-se de néctar. Vinda do Sudoeste da Austrália, pertence também ao grupo das parasitoides: as fêmeas inoculam um ovo no ovo do gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis), uma praga florestal, consumindo a larva o seu conteúdo, travando a doença. Por esta razão, por ser utilizada como controlo biológico da praga, como já acontece em Espanha desde os anos 90 do século passado. Pela proximidade, esta espécie já chegou às florestas portuguesas.

Vespa-mamute (Megascolia maculata)
A maior espécie de vespa e que ocorre na europa, com até 6 centímetros de comprimento e, por isso, muitas vezes tomada por vespa-asiática. É uma espécie que não representa perigo para os humanos e que se alimenta de néctar. Espécie parasitoide, coloca o ovo em larvas de escaravelho – por exemplo, nas do escaravelho-rinoceronte (Oryctes nasicornis) –, que paralisam. Dele se alimentam depois de eclodir.

Vespa Sceliphron (Sceliphron caementarium)
Vespa da família Sphecidae, também conhecida por vespa-taranta. De corpo alongado e fino, mede até 2,8 centímetros. Solitária, é uma espécie parasitoide. Esconde os seus ninhos feitos de lama ou barro, por vezes próximos a construções humanas. Nas câmaras cilíndricas dos ninhos deposita aranhas paralisadas e um ovo que depois de larvar se alimentará do animal. Em adulta, esta vespa alimenta-se de néctar de flores.

Tal como acontece com as abelhas, as vespas também pertencem ao grupo de insetos em declínio no mundo, tanto derivado das alterações climáticas como da consecutiva destruição dos seus habitats. Proteger este importante grupo de insetos, respeitando-o e evitando perturbações, será a melhor forma de coexistir na natureza.

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