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Buxo, dos bosques para os jardins

No limiar entre o arbusto e a pequena árvore, o buxo (Buxus sempervirens L.) é um predileto dos jardineiros, usado com fins ornamentais desde a Roma Antiga. O que talvez não saiba é que esta é uma espécie que cresce naturalmente nos leitos de cheia e vales encaixados rochosos interior Nordeste e Centro de Portugal. Tanto nos bosques como nos jardins, nutre uma relação especial com polinizadores.

Imagine um jardim ornamental, repleto de plantas podadas em atrativas sebes e esculturas vivas, num arranjo romântico de inspiração francesa. Este é um cenário em que o buxo habitualmente marca presença – e empresta a sua forma à paisagem –, mas a verdade é que esta é uma espécie que cresce naturalmente numa faixa territorial que atravessa Europa, África e Ásia, de Inglaterra a Marrocos e de Portugal ao Irão.

Em terras lusas, predomina naturalmente, sobretudo na Terra Quente Transmontana, com destaque para os vales do Sabor e do Tua. Ainda assim, e muito devido ao seu valor ornamental, tem sido levada para outros locais em Portugal e no mundo e, atualmente, está também naturalizada na América do Norte.

No seu habitat natural, é companhia comum para espécies de maior porte, prosperando em locais frescos e sombrios, como matagais ripícolas em leitos de cheia e barrancos, preferivelmente em rocha. Em Portugal continental ocorre em vertentes rochosas nos vales mais encaixados dos grandes afluentes da margem direita do rio Douro, a montante da Régua. Também pode ser visto à sombra de grandes árvores de outras espécies.

Pelas suas características – resistência, durabilidade, crescimento lento, folhas pequenas, persistentes e tolerância ao ensombramento –, o buxo é muito utilizado para a topiaria – técnica de jardinagem assente na poda de plantas em formas ornamentais, tanto em esculturas, como na formação de sebes. Portugal não é exceção a este uso. Basta visitar jardins emblemáticos, como o Jardim Botânico da Ajuda ou os Jardins da Quinta da Ínsua, para encontrar buxos cuidadosamente podados.

Considerado um arbusto que pode atingir porte arbóreo (entre 1 a 10 metros) o buxo tem uma dimensão que varia entre um porte um pouco maior do que uma pessoa adulta (dois metros) e, excecionalmente, os 10 metros. Por norma não ultrapassa os cinco metros de altura.

As folhas são pequenas, opostas, flexíveis e de forma oval ou elíptica, com uma cor verde-escura na face superior e verde-clara no inferior. Entre janeiro e maio, este verde maciço característico dos buxos é interrompido por pequenas flores amarelas-esverdeadas de cerca de dois milímetros, sem cheiro, mas muito atrativas para as abelhas devido à concentração de néctar. A folhagem compacta é também um abrigo protetor para pequenas aves, mamíferos e insetos. Os frutos, que amadurecem no verão, são pequenas cápsulas duras, contendo três a seis sementes muito escuras.

Quanto à madeira, a dureza que lhe é característica permite que seja torneada ou talhada, pelo que a sua aplicação é frequente em instrumentos musicais artesanais (gaitas-de-fole transmontanas, por exemplo), esculturas e pequenos utensílios trabalhados em detalhe, como pentes. A título de curiosidade, a utilização da madeira de buxo em pentes era já frequente no Império Romano e, na literatura clássica, a palavra “buxus” surge muitas vezes com o sentido de “pente”.

Buxo

Sabia que o buxo…

  • É tóxico? Todas as partes da planta são venenosas, sobretudo casca do tronco e folhas. Apesar disso, foi muito usado no passado (e ainda atualmente, embora de forma mais residual) no tratamento de diversas doenças, destacando-se o uso de folhas e casca como antipiréticos, no tratamento da malária. Está também registado o uso medicinal da planta em casos de infeções urinárias, reumatismo, problemas crónicos de pele, dores de cabeça ou epilepsia, entre outros.
  • Também é conhecido como buxo buxinho, buxo-arbóreo, buxo-comum e olho-de-gato. No seu nome científico, sempervirens é uma referência direta à folhagem persistente: sempre verde, sempre vivo. Esta é uma das plantas de folha persistentes cuja introdução para fins ornamentais é atribuída ao Império Romano.
  • Sendo bastante resistente a pragas e doenças, enfrenta uma ameaça muito específica e para a qual são necessários cuidados redobrados: a mariposa-do-buxo (Cydalima perspectalis). Esta borboleta noturna da família Crambidae, originária da Ásia, chegou a Portugal em 2016 – primeiro ao norte do país, deslocando-se progressivamente para sul. Em fase de lagarta, alimenta-se de folhas, casca e madeira de buxo, danificando-o e, por vezes, levando-o à morte.
  • Outra ameaça advém do desenvolvimento humano: a construção de barragens hidroelétricas é outra das ameaças à espécie, provocando pressão significativa sobre o buxo que se encontra “Em Perigo” (EN), segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.
Buxo
  • PLANTA

  • Buxo

    Buxus sempervirens L.

  • Género

    Buxus

  • Família

    Buxaceae

  • Estatuto de conservação

    “Em Perigo” (EN), segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental.

  • Habitats

    Cresce em matagais, em leitos de cheia com solos básicos ou derivados (encontrado casualmente em xisto ou granitos), vales encaixados rochosos e sob outras árvores. Por cultivo, é frequente em jardins e parques.

  • Distribuição

    Sul da Europa, noroeste de África e sudoeste da Ásia. Em Portugal, ocorre naturalmente em Trás-os-Montes e na Beira Alta, embora seja cultivado em todo o país para fins ornamentais.

  • Altura/comprimento

    Pode chegar aos 10 metros, mas é mais frequente ter até cinco.

  • Longevidade

    Várias centenas de anos.

Como cuidamos do buxo?

Na parte Norte da Quinta de São Francisco, buxos muito antigos, provavelmente centenários e com cerca de seis a sete metros, convivem com exemplares recentemente plantados junto aos caminhos.

Nesta Quinta dedicada à conservação, o maior de todos estes buxos centenários pode ser visto debaixo de carvalhos-alvarinhos (Quercus robur), de maior porte, junto da fonte de São Francisco.

O buxo é também uma das plantas avistadas entre as 900 espécies e subespécies de flora identificadas nas propriedades florestais sob gestão da Navigator. Ocorre espontaneamente (isto é, não foi cultivado nem fugiu de cultivo) num afluente do rio Sabor (Bragança), sendo a espécie dominante do habitat 5110 – Formações estáveis xerotermófilas de Buxus sempervirens das vertentes rochosas (Berberidion p.p.), identificado numa das propriedades ali existentes.

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