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Abutre-preto: a maior ave de rapina da Europa

Existe algo de fascinante no abutre-preto (Aegypius monachus), a maior ave de rapina da Europa. E embora esteja em perigo de extinção, nos primeiros seis meses de 2023 foram descobertos em Portugal alguns ninhos com crias. Sem dúvida, um pequeno passo para a existência desta espécie em terras nacionais que traz um grande alento para quem luta pela sua preservação.

Juntamente com o grifo (Gyps fulvus) e o abutre-do-egito (Neophron percnopterus), o abutre-preto (Aegypius monachus) faz parte dos tipos de abutres existentes em Portugal, ainda que este último se encontre classificado como Criticamente em Perigo de extinção no nosso território, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. O mais incrível é que pode viver até aos 35-40 anos em estado selvagem.

Ostentando em voo uma envergadura com cerca de 3 metros e um peso médio que pode ir até aos 11,5 kg, facilmente percebemos como esta espécie se tornou na maior ave de rapina da Europa e uma das maiores no mundo, além de mais pesadas. Em termos de morfologia, quando se tornam adultos entre os 3-6 anos têm a cauda curta, plumagem em tons de castanho escuro e a cabeça é coberta de uma lanugem aveludada castanho-acinzentado. Porém, na fase juvenil são mais escuros e a plumagem é mais homogénea.

Mas, por onde anda o abutre-preto? Digamos que procura ainda viver em locais com extensas manchas florestais, áreas de pastoreio extensivos ou zonas de montado, onde poderá encontrar cadáveres de animais selvagens e domésticos de médio e grande porte para se alimentar. É o caso de herbívoros domésticos, como ovelhas e cabras, e herbívoros selvagens, como veados, mas também de cadáveres e animais de menor dimensão, como coelhos (uma das principais presas). Afinal, trata-se de uma ave quase exclusivamente necrófaga que raramente captura presas vivas.

Entretanto, os abutres aproveitam as correntes de ar térmicas para voarem a grande altitude para procurar alimento, sendo que ao eliminarem as carcaças dos animais mortos no campo, evitam a propagação de doenças e asseguram o funcionamento da rede trófica do ecossistema.

Quanto ao habitat de nidificação, é composto por regiões remotas, com declives acentuados e pouco humanizadas, onde não seja perturbado. Em Portugal, por exemplo, a espécie constrói os seus ninhos de grande dimensão (145 a 190 cm de diâmetro) feitos de paus e troncos, em azinheiras (Quercus rotundifolia), sobreiros (Quercus suber) e, em algumas regiões, em pinheiros-bravos (Pinus pinaster). Dado ser uma espécie monogâmica, reutiliza os seus ninhos de ano para ano.

Em termos de reprodução, a época acontece entre fevereiro e setembro, culminando com a postura de quase sempre um ovo entre fevereiro e abril. Após o período de incubação, que dura aproximadamente 57 dias, segue-se o período nidícola das crias que pode ir até 120 dias e é repartido pelo casal, já que ambos os progenitores cuidam e alimentam a cria. Aliás, a relação entre os membros do casal é de longa duração, podendo mesmo ser para toda a vida.

Sabia que…

Após a extinção do abutre-preto em Portugal como espécie reprodutora, na década de 1970, este estabeleceu o seu primeiro ninho em território nacional no Parque Natural do Tejo Internacional, em 2010. Precisamente onde se encontra o Zambujo, uma propriedade de floresta plantada gerida pela Navigator onde decorre oZambujo reCover – Projeto de requalificação florestal e proteção de solos”. Promovido pela Companhia em parceria com o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, Laboratório de R&D detido pela The Navigator Company, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia

Segundo o LIFE Aegypius Return, um projeto de conservação que está em curso desde 2022 com o objetivo de consolidar o regresso da espécie, existem atualmente entre 78 e 81 casais de abutre-preto a nidificar em território português.

No primeiro semestre de 2023, a organização ambiental sem fins lucrativos Rewilding Portugal confirmou a existência de oito ninhos com crias na Serra da Malcata, representando um marco importante para a concretização de ações de preservação da espécie.

  • Ave

  • Abutre-preto

    Aegypius monachus

  • Família

    Accipitridae

  • Estatutos de conservação

    Quase ameaçada (Global) / Criticamente em perigo (Nacional) segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal

  • Habitat

    O habitat preferencial do abrute-preto são regiões remotas de difícil acesso e pouco humanizadas. Normalmente vive em locais com extensas manchas florestais ou matagais arborizados.

  • Distribuição

    Em Portugal, esta espécie pode ser encontrada no Leste e Centro-Sul do território continental, ao longo da região fronteiriça do território continental entre a Beira Baixa e o Baixo Alentejo, sendo um visitante esporádico no Parque Natural do Douro Internacional.

  • Comprimento

    98-120 cm

  • Envergadura de asas

    250-310 cm

  • Peso

    6,3 a 11,5 kg

  • Longevidade

    35 | 40 anos

Como cuidamos desta espécie?

Há muito que estão identificadas as principais ameaças à conservação desta espécie, que incluem a mortalidade por envenenamento, colisão e eletrocussão, abate ilegal, redução o alimento disponível, degradação do habitat de alimentação e das áreas de nidificação, além da perturbação humana durante esta época.

Neste sentido, através doZambujo reCover – Projeto de requalificação florestal e proteção de solos”, em pleno Parque Natural do Tejo Internacional, temos procedido à implementação de uma ação de restauro ecológico numa área de 153 hectares (o equivalente a cerca de 150 campos de futebol) que levará à melhoria dos habitats protegidos de mais de uma centena de espécies de flora e fauna, onde se inclui o abutre-preto.

O projeto “Zambujo reCover – Projeto de requalificação florestal e proteção de solos” decorre no Zambujo, uma propriedade florestal situada no concelho de Idanha-a-Nova, na Zona de Proteção Especial do Tejo Internacional, Erges e Pônsul, área classificada como Rede Natura 2000.

Promovida pela The Navigator Company em parceria com o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, a iniciativa tem um orçamento global de 225 774,79 euros e é financiada pelo Programa COMPETE 2020 no âmbito da medida “Apoio à transição climática/Resiliência dos territórios face ao risco: Combate à desertificação através da rearborização e de ações que promovam o aumento da fixação de carbono e de nutrientes no solo” (REACT-EU/FEDER).

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