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Azinheira

A azinheira é uma árvore típica do mediterrâneo e uma das espécies florestais mais resistentes à aridez. Tal como o sobreiro, tem importância ambiental, económica e social especialmente em zonas mais secas e em solos áridos e pedregosos, onde nem todas as espécies conseguem singrar.

A azinheira (Quercus rotundifolia), também conhecida como azinheira-de-bolota-doce, azinho, sardão ou sardoeira, pertence ao grupo de espécies nativas de Quercus, em Portugal, ou seja, aos vulgarmente designados carvalhos. São árvores da família Fagaceae, na qual também se incluem o castanheiro e a faia, espécies que integravam a floresta primitiva, denominada por Fagosilva, que cobria grande parte do território português, após as últimas glaciações, há cerca de 12 mil anos.

Habituada às agruras do clima, esta resistente consegue viver em condições pouco convidativas, como verões escaldantes e invernos gélidos, e crescer em zonas semiáridas ou áridas, nos mais variados tipos de solo, incluindo zonas pedregosas e escarpadas pouco ou nada férteis (por exemplo, granitos quebrados e quase sem solo), e em altitudes elevadas, povoando a maioria das serras interiores portuguesas.

Parte desta resistência está relacionada com a sua folhagem permanente e um dos seus segredos está nas folhas coriáceas (com uma consistência semelhante ao couro), que estão revestidas por substâncias ceráceas (um género de cera isolante), e que exibem, na página inferior, um revestimento piloso esbranquiçado, que reduz o fluxo de ar que passa pelos poros (estomas), diminuindo as perdas de água por evaporação e transpiração (evapotranspiração). A pequena área das folhas (comparativamente a outros Quercus) e o frequente enrolar da folha, que protege a página inferior da folha, contribuem também para esta redução das perdas de água.

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Assim, no verão, quando aumenta a carência de água, a azinheira consegue reter alguma humidade no seu interior. Com estes mecanismos de proteção, que evitam a desidratação, torna-se mais resistente às diferenças de temperatura e à intensa secura estival (stress hídrico). E em situações de extrema secura, consegue diminuir o número e o tamanho das folhas, adotando um porte arbustivo. Além disso, tem elevada capacidade para proporcionar matéria orgânica aos solos empobrecidos, ajudando à formação do solo e à proteção contra a erosão.

Embora a azinheira não seja invulnerável (por exemplo, não se dá bem em zonas encharcadas e a sua copa desenvolve-se mais quando não há carência de água), parte da sua resistência a capacidade de adaptação tornou-a numa espécie característica da estepe cerealífera portuguesa e do montado. Pelas mesmas razões, é considerada como numa das pioneiras para a arborização das zonas mais afetadas pela aridez e para o restauro ecológico de ecossistemas em regiões mais suscetíveis a este e outros efeitos das alterações climáticas.

Assim, onde escasseiam outras árvores e arbustos, as azinheiras assumem um relevante papel ambiental: ajudam a formar habitats mais convidativos à instalação de outras espécies e servem de locais de alimentação, refúgio e reprodução para múltiplos animais, incluindo mamíferos e aves (insetívoras e de rapina, diurnas e noturnas).

Não admira, portanto, que a azinheira, tal como o sobreiro, seja uma espécie protegida em Portugal e integre dois habitats do Plano Setorial da Rede Natura 2000 — 6310 – Montados de Quercus spp. de folha perene e 9340 – Florestas de Quercus ilex e Quercus rotundifolia —, no âmbito da Diretiva Habitats.

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Sabia que a azinheira…

  • É uma árvore de porte médio, que, excecionalmente, pode atingir até 27 metros de altura e que, em situações de maior carência de água, pode assemelhar-se a um arbusto. Possui uma copa geralmente ampla e relativamente arredondada, tronco curto, tortuoso e muito gretado, com casca acinzentada. As suas folhas são verde-escuras na página superior, e verde-acinzentadas, com cobertura de pelos, na inferior. Floresce de fevereiro a maio.
  • Tal como os outros Quercus, produz frutos: glandes, mais conhecidas como bolotas. As bolotas da azinheira são de todas as mais doces, têm longa tradição na alimentação animal e, hoje, têm também diversas aplicações na humana. O consumo de bolota pode trazer benefícios para a saúde e a sua farinha é consumível por intolerantes ao glúten. Com o intuito de valorizar este recurso, criou-se, em 2020, a Confraria Ibérica da Bolota e elegeu-se 10 de novembro como “Dia Nacional da Bolota”.
  • É uma espécie de grande enraizamento na cultura portuguesa: uma das azinheiras mais famosas está associada às aparições de Fátima, em 1917: é uma árvore de interesse público (KNJ1/473), com mais de 13,5 metros de altura e de 16,5 metros de diâmetro na copa. Tornou-se um exemplo de “grande simbolismo e devoção”, apesar de não ser a árvore sobre a qual se diz terem ocorrido as aparições – a original foi destruída por cortes e roubos de ramos, levados por crentes como relíquias sagradas, assim como por atos de vandalismo, mas esta também acolhe na sua sombra peregrinos e visitantes há mais de 100 anos.
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O projeto “Zambujo reCover – Projeto de requalificação florestal e proteção de solos” visa a implementação de uma ação de restauro ecológico numa área de 153 hectares, através da rearborização com espécies autóctones, com os objetivos de promover conservação de solos e a melhoria de habitats protegidos.

A intervenção decorre no Zambujo, uma propriedade florestal situada no concelho de Idanha-a-Nova, em pleno Parque Natural do Tejo Internacional e na Zona de Proteção Especial do Tejo Internacional, Erges e Pônsul, área classificada como Rede Natura 2000.

Promovida pela The Navigator Company em parceria com o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, a iniciativa tem um orçamento global de 225 774,79 euros e é financiada pelo Programa COMPETE 2020 no âmbito da medida “Apoio à transição climática/Resiliência dos territórios face ao risco: Combate à desertificação através da rearborização e de ações que promovam o aumento da fixação de carbono e de nutrientes no solo” (REACT-EU/FEDER).

  • PLANTA

  • Azinheira

    Quercus rotundifolia

  • Género:

    Quercus

  • Família:

    Fagaceae

  • Estatuto de conservação:

    “Pouco preocupante”, segundo a Lista Vermelha da IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza. Em Portugal, é uma espécie protegida por lei.

  • Habitat:

    Como espécie mediterrânica, sobrevive em locais secos e nos mais variados tipos de solo, sendo pouco exigente relativamente a nutrientes. Aparece em bosques e matagais de folha persistente, onde, frequentemente, se assume como a árvore dominante, formando azinhais. No Alentejo, surge em povoamentos mais dispersos, constituindo os montados de azinho.

  • Distribuição:

    É uma espécie espontânea na bacia do Mediterrâneo, comum no sudoeste da Europa e no norte de África. Em Portugal, surge em quase todo o território continental (exceto faixa litoral centro-norte), embora predomine no interior do país.

  • Altura / Comprimento:

    Até 27 metros.

  • Longevidade:

    Cerca de 1000 anos.

Como cuidamos da azinheira?

A azinheira é comum nas zonas florestais e agroflorestais geridas pela The Navigator Company, nomeadamente no Ribatejo, Alentejo, Trás-os-Montes e Beira Interior. Emblemática do Montado, está presente, juntamente com o sobreiro, em várias zonas que correspondem aos dois referidos Habitats da Rede Natura: ao Habitat 6310 “Montado de Quercus spp. de folha perene” onde se realçam os cerca de 100 hectares na região de Aljustrel, e ao Habitat 9340 “Florestas de Quercus ilex e Quercus rotundifolia” que está identificado em cerca de 400 hectares (isolado ou em combinação com outros habitats) em propriedades da empresa.

As azinheiras e sobreiros beneficiam de uma zona proteção (tampão), onde não se faz mobilização do solo, de modo a proteger as árvores, as suas raízes e a riqueza de vida em seu redor. A regeneração natural é privilegiada, procedendo-se apenas a medidas silvícolas pontuais – como, por exemplo, controlo fitossanitário, da vegetação excessiva ou adensamento – que ajudam ao equilíbrio destes ecossistemas. A sua plantação tem sido prática nas situações em que a regeneração natural se mostra insuficiente.

A azinheira é uma das espécies em destaque no projeto Zambujo reCover, que arrancou no final de 2022 para fazer o restauro ecológico de mais de 150 hectares numa propriedade da The Navigator Company – o Zambujo –, localizada no Concelho de Idanha-a-Nova, em pleno Parque Natural do Tejo-Internacional.

A intervenção visa, entre outros objetivos, aumentar a resistência deste território aos efeitos das alterações climáticas, melhorando os solos, muitos deles pedregosos e sujeitos a elevada erosão, e as condições de habitat do Zambujo, onde estão identificados vários habitats protegidos (entre os quais o 9340) e cerca de 100 espécies de plantas e animais.

Saiba mais aqui sobre este projeto iniciado em 2022 e que se prolonga por todo o ano de 2023.

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